Paola Farina
O que é a Terapia de Aceitação e Compromisso?
A Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT) é uma abordagem terapêutica baseada
no contextualismo funcional - filosofia que busca prever e influenciar eventos psicológicos com precisão, escopo e profundidade e que os interpreta como interações de organismos dentro de um contexto histórico e situacional (Hayes, Strosahl & Wilson, 2021). A ACT utiliza como ferramentas de mudança processos de mindfulness e aceitação, assim como processos de comprometimento e mudança de comportamento, somando seis processos de flexibilidade psicológica: aceitação, desfusão, self-como-contexto, contato com o momento presente, valores e ação comprometida (Luoma, Hayes & Walser, 2022).
O objetivo principal da ACT é que os(as) clientes continuem sentindo e pensando aquilo que já costumam pensar e sentir, com abertura e disposição, sem necessidade de esquiva ou fuga, para que sejam capazes de escolher a direção que querem seguir, baseado no que é importante para eles e não na tentativa de controlar eventos internos desagradáveis (Luoma, Hayes & Walser, 2022).
Os processos de inflexibilidade psicológica
Na perspectiva da ACT, a inflexibilidade psicológica é um conjunto de processos de causam e/ou aumentam o sofrimento humano. Esses processos são: esquiva experiencial, fusão cognitiva, self-como-conteúdo, atenção inflexível, falta de clareza dos valores e inatividade e/ou impulsividade e/ou esquiva persistente (Luoma, Hayes & Walser, 2022).
Esquiva experiencial
A esquiva experiencial ocorre quando uma pessoa não está aberta a continuar em contato com algum evento privado (sensações, pensamentos, memórias, sentimentos) e toma medidas para alterar essas experiências. No entanto, comumente a esquiva experiencial produz o efeito oposto do que promete, já que, quanto mais tentamos não entrar em contato com algum evento privado, mais ele tende a aparecer. Ademais, os custos costumam ser muito significativos, como manutenção de comportamentos autodestrutivos (excesso de consumo de bebidas alcoólicas, por exemplo) ou limitação importante da vida da pessoa (Hayes, Strosahl & Wilson, 2021).
Fusão cognitiva
A fusão cognitiva acontece quando o evento e nossa interpretação verbal do evento parecem ser uma coisa só, ou seja, quando aquilo que pensamos se torna a verdade literal dos fatos. Dessa maneira, o conteúdo verbal passa a substituir o contato direto com o ambiente, causando uma “distorção” na maneira como o mundo é visto e interpretado (Luoma, Hayes & Walser, 2022).
Self-como conteúdo
O Self-como-conteúdo é composto por histórias sobre nós mesmos - o que somos, do que gostamos, o que fazemos ou deixamos de fazer - que tornam-se uma verdade pouco útil para o indivíduo, já que, caso algum evento venha a contrariar esses autoconceitos construídos - por exemplo, a perda de um emprego - pode soar como se o indivíduo, em si, que estivesse correndo risco. Esse tipo de interpretação de eventos é considerado uma fusão cognitiva bem perigosa (Barbosa & Murta, 2014).
Atenção inflexível
Esse processo de inflexibilidade ocorre quando os clientes demonstram estar com uma rigidez atencional, fora de contato com o presente. Isso pode vir como distração e/ou incapacidade de se conectar com o terapeuta em sessão, principalmente em relação às perguntas e conversas, como se estivessem tendo conversas paralelas. A conversa também pode soar como tediosa e sem vida, com o terapeuta constantemente tentando evocar alguma resposta no cliente, sem sucesso (Hayes, Strosahl & Wilson, 2021).
Falta de clareza dos valores
A falta de clareza dos valores se dá quando o cliente demonstra desconhecer, pelo menos em partes, o que é importante para a sua vida fazer sentido. Essa questão pode ter sido deixada de lado pelo fato de uma guerra dentro dele estar acontecendo (Hayes, Strosahl & Wilson, 2021).
Inatividade, impulsividade e esquiva persistente
Esse último processo de inflexibilidade foi deixado por último de propósito, já que a falha nesse processo representa uma falta de habilidades em outros processos, de modos que a pessoa não consegue caminhar em direção a seus valores. As pessoas que estão presas nesse processo, em busca de alívio para o sofrimento, perdem o contato com o que importa para elas, indo de encontro apenas com reforços de curto prazo (Luoma, Hayes & Walser, 2022).
Referências:
Barbosa, L. M., & Murta, S. G. (2015). Terapia de aceitação e compromisso: história, fundamentos, modelo e evidências. Revista Brasileira De Terapia Comportamental E Cognitiva, 16(3), 34–49.
Luoma, J. B, Hayes, S.C & Walser, R. D. (2022). Aprendendo ACT: manual de habilidades de terapia de aceitação e compromisso para terapeutas (2a ed.). Novo Hamburgo: Sinopsys.
Hayes, S.C, Strosahl, K.D & Wilson, K.G. (2021). Terapia de Aceitação e Compromisso: o processo e a prática consciente (2a ed.). Porto Alegre: Artmed.