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Izabela Gonçalves da Silva 

           A família é considerada o primeiro sistema de socialização da criança onde um padrão de papéis e relações interpessoais são experienciados, tornando esse um importante ambiente para o desenvolvimento infantil. De acordo com Silva et al. (2008) é nas interações familiares que padrões de comportamento, valores, costumes, hábitos e linguagens são estimulados e desenvolvidos. Para a Análise do Comportamento, o comportamento do participante do grupo familiar, como em outras interações com o ambiente, é motivado por suas necessidades biológicas de sobrevivência e modelado por suas consequências, o que fortalece ou enfraquece classes de respostas e determina a variabilidade ou restrição do repertório comportamental de seus participantes (Banaco & Junior, 2020).

            Pensando na clínica analítico-comportamental infantil, a criança é levada para os atendimentos clínicos por meio dos pais e/ou responsáveis, o que diferencia esse processo psicoterapêutico dos demais pois, além da criança, teremos a família como nossos clientes. Dessa forma, uma das primeiras tarefas do psicólogo infantil é se tornar reforçador tanto para a criança quanto para seus responsáveis, possibilitando que eles se sintam seguros e acolhidos para expor suas queixas e, a partir disso, se sintam compreendidos (Marinotti, 2012).

            Como as entrevistas iniciais com os responsáveis são o ponto de partida dos atendimentos infantis, alguns pontos são primordiais para haja uma coleta de dados ampla e funcional. De acordo com Marinotti (2012), informações acerca da queixa inicial como, por exemplo, histórico de ocorrência, percepções da família sobre o comportamento, consequências decorrentes de tal comportamento para a criança e seus familiares e identificação de situações em que esses comportamentos ocorrem (e não ocorrem) são essenciais. As respostas a essas questões são dados importantes que vão nos sinalizar o quão sensíveis os pais estão ao comportamento da criança e quais foram as alternativas já implementadas por eles em prol de uma resolução viável à queixa. Perguntas como “quando isso aconteceu?”, “o que aconteceu antes e depois desse comportamento da criança?” e “como vocês reagiram quando a criança fez isso?” nos fornecem dados para elaborar análises funcionais e levantar hipóteses sobre o comportamento da criança e a forma como a família lida com ele.

             Nesse sentido, Del Prette et al. (2020) abordam que as intervenções comportamentais com os pais partem de três principais premissas, sendo elas o fato de que o ambiente pode produzir, manter ou intensificar padrões de comportamento da criança; o relacionamento com os pais é uma parte significativa do ambiente da criança e, portanto, os comportamentos delas podem ser modificados por meio de mudanças nos comportamentos dos seus pais.

            É importante ressaltar que, ao trazer os pais para serem parte do desenvolvimento terapêutico da criança, não faz parte do nosso objetivo torna-los seguidores de instruções ou especialistas em análise do comportamento, mas sim de capacitá-los para serem melhores observadores, engajá-los no processo e auxiliá-los a estarem sob controle discriminativo de aspectos mais eficientes para desenvolverem habilidades de tomada de decisão e solução de problemas que contribuam positivamente na educação de seus filhos (Marinotti, 2012). Mudar os ciclos coercitivos e levar os pais a mudarem a forma como percebem e se relacionam com seus filhos enquanto eles ainda são crianças é, de acordo com Del Prette et al (2020), agir sobre os outros do futuro.

           

Referências

Banaco, Roberto., & Júnior, Inaldo (2020). O atendimento de famílias: Família pra que te quero. Em A. Rossi, I Linares., & L. Brandão (Orgs.), Terapia Analítico-Comportamental Infantil (pp. 241-256). São Paulo: Centro Paradigma Ciências do Comportamento.

Del Prette, G., Pilatti, C. D., Modernell, L. M., & Dib, R. R (2020). Análise funcional de intervenções com pais: Orientação ou treinamento?. Em A. Rossi, I Linares., & L. Brandão (Orgs.), Terapia Analítico-Comportamental Infantil (pp. 219-240). São Paulo: Centro Paradigma Ciências do Comportamento.

Marinotti, Miriam. A importância da participação da família na clínica analítico-comportamental infantil. Clínica Analítico-Comportamental. Org. BORGES, Nicodemos B. CASSAS, Fernando A. – Porto Alegre: Artmed, 2012. p.251-258

Silva, Nancy Capretz Batista da et al. Variáveis da família e seu impacto sobre o desenvolvimento infantil. Temas psicol., Ribeirão Preto, v. 16, n. 2, p. 215-229, 2008. 

Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-389X2008000200006&lng=pt&nrm=iso>.

A importância da família na psicoterapia infantil 

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